O TRISTE FIM DO AMADORISMO NO FUTEBOL

Há um ano, participamos de um campeonato amador de futsal feminino, conhecido também como “campeonato de bairro”, localizado no Conjunto Ceará, bairro muito denso e populoso de Fortaleza.  Os jogos ocorriam, geralmente, durante a semana e a noite. Não faltávamos a nenhum jogo e adorávamos aquele clima amistoso e menos descompromissado que esse tipo de competição sabe bem proporcionar.
Um dia, porém, durante um jogo bastante disputado, uma jogadora da equipe adversária e seu treinador começaram a discutir. Depois de vários ataques verbais de ambos os lados, o treinador, numa atitude primitiva, acerta um soco no rosto da própria atleta. Todos nós que estávamos em quadra nos assustamos com aquela selvageria, mas o árbitro, tão amador quanto o campeonato, deixou que a partida seguisse. O jogo prosseguiu, mas, obviamente, não era o mesmo, pois havia agora uma tensão.
Não me recordo do placar final do jogo e pouco interessa diante de uma situação como essa. Na prática amadora de outros esportes além do futebol, nunca me deparei com atitudes tão amorais e impunes como a que narrei. Por isso, me debruçarei especificamente sobre o futebol e suas vertentes, como, no caso, o futsal.
Segundo Manoel Tubino, um dos maiores acadêmicos de Teoria Geral do Esporte no Brasil, um dos efeitos sociais negativos do esporte de alto rendimento é a sua reprodução “sem filtros” nas outras dimensões do esporte, como no esporte participativo popular, voltado muito mais para o amadorismo. A meu ver, no futebol, essa situação é muito clara. Em meio de tanto sensacionalismo promovido pela mídia, o futebol profissional, por exemplo, está repleto de malandragens, desonestidades, desrespeitos, imoralidades por parte dos dirigentes, treinadores, atletas, árbitros e torcedores.
Assim, o futebol amador, o campeonato de bairro ou a pelada, lamentavelmente, seguem o mesmo caminho da modalidade profissional. Pessoas que, antes, se juntavam para “jogar bola” com objetivo primeiro de se divertir, agora perdem uma amizade por um lateral. Os “racheiros” passaram a contratar um árbitro, pois não há mais lugar para o consenso. O ambiente descontraído tornou-se de tensão. E aquele soco na cara, foi, para mim, também um soco indicando um triste fim do amadorismo no futebol.


Nara Romero, 2012