Nunca havia me perguntado anteriormente sobre a presença das filas em minha
vida. Isso! As filas! Aquelas que nos perseguem, que odiamos e temos que
respeitar simbolicamente. Ninguém é preso por furar fila, mas que isso é
errado, isso é. Elas nos impõem várias regras de nosso comportamento.
Um dia cheguei à fila do banco e ela estava enorme, dando voltas, respirei fundo, com certa raiva mas não vi
uma segunda opção, mesmo que a minha vontade fosse entrar na frente daquela
fila ou sair dali correndo. Com o meu
problema resolvido é claro.
Durante o tempo que ali me encontrava fiquei olhando pela vidraça onde
algumas pessoas também apareciam, olhavam a bendita fila e respiravam fundo,
uns entravam, outros desistiam. E enquanto o tempo passava eu refletia sobre
como uma fila podia ter tantos simbolismos.
Como a vida não é inútil, aquele dia não podia passar em branco. No exato
momento em que faltava uma única pessoa para, enfim, eu ir ao caixa, uma mulher
não muito educada entrou bruscamente em minha frente e disse, sou preferencial.
Somente.
Tenho que descrever as características da minha possível inimizade de fila:
Uma mulher loira, alta, em torno de 45 anos ou 50, com um corpo magro, usando
um salto muito alto e com uma postura elegante, ela portava uma enorme bolsa de
marca. Ela era uma daquelas pessoas que
o peito é tão pra frente que você não sabe se é problema postural ou pura
arrogância. Tive 10 segundas para ter uma reação crítica, reflexiva e coerente,
poderia ter perguntado qual a deficiência dela, ou qual quesito ela se
encaixava na lista devidamente colocada acima dos caixas: “Preferencial para,
gestantes, deficientes, idosos e pessoas com criança de colo.” Naqueles 10
segundos olhei para ela e não fiz absolutamente nada. Só entendi que ela não se
encaixava ali.
Enquanto minha vontade era apontar para a lista de preferencial e dizer
que ela estava muito bem para ter mais que 60 anos, olhei para trás, esperei a
atitude de alguém e ela posicionou-se
rapidamente em minha frente. Sem opção, bati o pé, respirei fundo mais uma vez
e olhei a hora.
Tive um tempo de volta à calma em meu translado para a universidade e
fiquei pensando nas filas que encontro ao longo de minha vida, as filas do
banco, do restaurante universitário, da compra de ingressos e dos estádios, sem
contar dos serviços públicos. Muitas pessoas não respeitam, furam, guardam vaga
para outras pessoas e no melhor dos casos, fazem longas amizades que duram em
média de 30 minutos (no mínimo).
Quando ia descendo do transporte público o qual tive que enfrentar outra bendita
fila, tive um insight de uma fila, que esteve tão presente na minha vida e
nunca tinha parado pra pensar, e que incrivelmente me parece um pouco diferente
das demais, e isso não necessariamente é positivo.
Falo da fila nas salas de aula, e para isso vou fazer um paralelo com
minha área, a Educação Física, onde geralmente lido com filas. Lembro-me dessas
filas com certa desmotivação, onde os alunos nas aulas são chamados gentilmente
pelo professor para formar uma fila voluntária e realizar certa atividade.
Dificilmente alguém quer ser o primeiro da fila, ou o primeiro voluntário, e
quando pior, alguns alunos seguem criteriosamente uma hierarquia de dispor os
melhores na frente e os outros vão se dispondo em uma ordem quase que inversa,
de trás para frente.
Não é meu objetivo discutir os aspectos culturais e sociais das filas nas
aulas de Educação Física, e por licença poética digo: todos nós odiamos filas,
sejam elas no banco ou na escola. Mas uma coisa é certa, tem algo diferente com
estas filas; É tão atraente ser o primeiro da fila no banco, enquanto nas filas
para aprender, para obter algum conhecimento o lugar mais desejado é o último.
Isabellle Maria Alves De Castro Costa