[EXPERIMENTAÇÃO] Educação Bipartida?! Minha busca por uma educação que integra - Luciana Meneghetti

Tipo de Experimentação: Experiência como Educador
Tipo de Instituição: Estadual
EEP Nelson Pizzotti Mendes
CONTATO:
lu_meneghetti@yahoo.com.br

Educação Bipartida?! 
Minha busca por uma educação que integra.

“A singularidade de cada ambiente de trabalho,
intensifica as formas mais complexas de vermos o mundo”.

Em 2008, na atribuição de aulas de Educação Física da E.E. Prof. Nelson Pizzotti Mendes, uma escola estadual localizada na cidade de Santo André-SP, optei por assumir as aulas de uma 3ª série do Ensino Fundamental. Como nunca havia trabalhado com o ciclo I, não imaginava o que encontraria...
E foi assim, sem muita informação que entrei naquela sala no primeiro dia. Lembro-me do tremor que senti ao abrir a porta e ver uma cena que jamais saiu da minha memória: uma sala BI-PAR-TI-DA. Nela, parte dos alunos ficava de frente para a lousa instalada no fundo da sala e a grande maioria da turma, ficava virada para frente. Cada grupo ficava literalmente de costas para o outro. Fiquei alguns instantes paralisada. O que era aquilo?

No decorrer do dia, foi que pude esclarecer algumas coisas: todos os alunos que estavam no fundo, estavam sendo alfabetizados pois chegaram até ali sem nada ter aprendido, enquanto os outros, seguiam com o conteúdo comum da série. 

Após diversos questionamentos, pensamentos e inquietação, resolvi conversar com todos os colegas que pudessem me dar uma luz! Li livros, fiz pesquisas e pedi informações. Mas a diferença toda foi acreditar que não há limites para nossa criatividade! Foi dela que partiu a ideia de elaborar aulas inovadoras de Educação Física, integrando conteúdos que as professoras de Ensino Fundamental utilizam em sala de aula.

A partir destes desafios, passei a criar atividades que envolviam a alfabetização e outros conteúdos daquela série. Comecei a utilizar nas aulas os alfabetos móveis, kits específicos para o letramento que nem sabia que existiam e tenho certeza que alguns colegas nunca ouviram falar.

Ao longo do ano, fui adaptando as atividades e sempre procurando compartilhar com outros colegas os resultados obtidos. Mas de repente tive um “insigth”. Resolvi mediar uma reunião da escola entre professores e familiares. Entreguei aos pais um texto escrito em grego. Os pais, com muita indignação me disseram que era impossível ler aquilo, pois estava escrito em outra língua. Então eu disse que era exatamente daquela forma que alguns de seus filhos viam o que estava na lousa dia após dia. A comoção foi geral. Pedi que eles reservassem algumas horas do seu dia para assessorassem os seus filhos em casa, afim de ajudá-los a superarem suas dificuldades.

E o ano correu entre ranços e avanços. Ao final do ano, não conseguimos realizar 100% do que havia planejado. Mas ver aquele menino triste, que não entendia nada do que dizíamos, passar a esboçar palavras em seu caderno, te entregar bilhetes quase ilegíveis muitas vezes, e receber diariamente enormes abraços, foi a recompensa de um ano árduo e de saber que somos capazes de fazer a diferença.