[INTERAÇÃO] TUDO O QUE EU NÃO SABIA - Frédéric G. P. Minguely

Meu nome é Frédéric Guy Pierre Minguely, sou um Francês de 46 anos que acabou de se formar em educação física, no Brasil. Mas, não é aqui que começa o conto de fadas.

Era uma vez na França, nos anos 80, um garoto de 11 anos que entrava no Ensino Fundamental (2) sem ter afinidades especiais com a Educação Física. Sabia nadar bem, mas era a única habilidade que ele tinha sem nem praticar em estrutura oficial. Não tinha encontrado ainda o que ele queria fazer. Com certeza, não era o futebol. Não tinha atração para lutas. Ele tinha medo dos contatos físicos do rúgbi. Tudo isso para o grande desespero do seu avô que queria - absolutamente - que seu neto praticasse uma modalidade. Ao descobrir a educação física escolar com um professor competente, polivalente e dedicado a sua profissão (segundo os padrões da época), esse menino começou a gostar de várias modalidades e desenvolveu habilidades que nem sabia que tinha. 

Destacou-se no atletismo, na ginástica, e no handebol e tinha sempre notas boas pelo bom desempenho físico adquirido por conta da perseverança daquele professor que sempre o incentivou a experimentar novas atividades. Era uma época tecnicista e só valiam os resultados. Tinha que ter qualidades atléticas para ter notas boas. Que sorte tinha esse menino de se dar bem nas atividades físicas! Era difícil para os gordinhos, os magrinhos e todos aqueles que não se davam bem (inicialmente) com as atividades físicas. Sofriam bullying. Tinham notas ruins, etc. 

Aquele professor acabou sendo um exemplo para o rapaz e logo esse jovem atleta em desenvolvimento decidiu que queria seguir o mesmo caminho. Ele ia ser um professor de educação física, tão bom como aquele que tinha mudado a vida dele. Um sonho tinha nascido. Uma obra estava em andamento. Entre 12 e 18 anos experimentou várias modalidades porque para ele um professor tinha que ter muitas vivências para saber fazer o que ia ensinar. Esgrima, vôlei, ciclismo, luta grego romana, sky, toda nova experimentação era válida para melhorar seus conhecimentos em educação física e já sonhava entrar na faculdade para aquela tão querida profissão. Mas, a vida não é um caminho reto e nem sempre segue a trilha idealizada por nós. Isso também, ele não sabia. 

Depois de um acidente que arruinou as suas chances de conseguir as provas físicas de seleção para a faculdade de educação física, o sonho virou lembrança. Passou o ensino médio desanimado e durante mais de 20 anos trabalhou num emprego nem tanto ruim, mas longe do desejado. Por isso, insatisfeito, com 41 anos decidiu mudar de vida. Deixou tudo, mudou de continente e chegou ao Brasil atraído pelo amor. 

A vida deu uma viravolta. Naquela cidade onde morava a amada, tinha universidade estadual com o curso de educação física. A seleção não era física. E o sonho do garoto que cutucava doloridamente às vezes os pensamentos do soldado virou o objetivo de um homem. Foram quatro anos de estudos, de descobertas, de reflexões e de revelações. A educação física era tudo o que ele tinha sonhado e mais um pouco. Essa profissão não era apenas para “coisas de atletas”. Envolvia preocupações sociais, inclusão, solidariedade, cooperação e tantas coisas que ele não sabia. 

O curso de especialização em educação física escolar da UECE alimentou mais ainda essa sede de saber e acrescentou mais conhecimentos valiosos. Através a disciplina de didática aprendeu o poder das mídias, os seus perigos, mas também suas capacidades educativas. Destacaram-se as possibilidades das tecnologias de informações e comunicações em educação (TIC). O potencial que elas têm tanto para aprender como para ensinar. Essas tecnologias permitem que “ele”, hoje possa relatar e partilhar na internet a sua experiência, ou seja, o que sabe, e também tem a oferecer. 

Assim, esse conto de fadas acaba com final feliz. 

Então, o que pode dizer um professor de educação física feliz a não ser: Obrigado Brasil!