Meus professores de Educação Física e a falta que eles não me fazem.
Durante toda uma vida na escola tive cerca de cinco ou seis professores de Educação Física. O primeiro deles deu aula de futsal e futebol. O segundo deles, que chegou à escola para substituir o primeiro nos levou imediatamente até uma sala de aula convencional, nos ensinou o nome de alguns músculos, falou que daria aulas de vôlei, contou um pouco da história desse esporte, mas é engraçado porque das aulas práticas que ele deu só me recordo de futebol, futebol, futebol e futebol.
Chegando ao ensino médio, troquei de escola, ganhei um pouco mais de liberdade. Pude escolher que esporte praticar, mais uma prisão, mas ainda sim uma prisão um pouco mais larga. Joguei handebol, ou melhor... Tentei. Não passei das primeiras aulas porque certa vez tive de fazer uma sequência de movimentos e ao invés de fazer correndo, fiz andando, não por preguiça ou indisposição, mas porque no momento em que o professor deu o exemplo, ele andou! Parou a aula imediatamente, pediu a bola, olhou para turma e voltou seus olhos para mim: “Com uma postura dessas, você desestimula o time e se for para agir assim é melhor ficar em casa.” E olhando para fila de garotas atrás de mim: “Se alguma de vocês quiser repetir isso, melhor ficar em casa.” Depois disso, me devolveu a bola. Olhei para o gol a minha frente, para as colegas atrás de mim que certamente fariam correndo, fariam sim, com certeza, depois de tão sutil ressalva do professor lógico que fariam. E do alto de meu orgulho adolescente, andei, não em direção ao gol, mas na direção do professor, entreguei a bola em suas mãos, não disse uma palavra e fui para casa. Chorei praticamente todo o caminho de volta. “Que babaca! Quanta arrogância! Para que aquilo? Para que?” Senti saudades das monótonas aulas de futebol.
Troquei de esporte, descobri o vôlei, cheguei a ser levantadora do time, mas certo dia o professor chegou e disse: “Hoje, vamos aprender rotação.” E a expert em rotação no time tem que ser quem? A levantadora! Pelo menos segundo o professor. A única rotação que eu conhecia era aquela que a gente estuda junto com a translação nas aulas de ciências e até que o conceito serviu. Mas, a aula começou a ficar extremamente chata com toda aquela cobrança de estar sempre no lugar certo, na posição certa, fazendo a coisa correta e sendo um exemplo para as outras meninas. Fui deixando de ir... Sabe onde eu acabei parando? No futsal! Ah, quantas saudades de “ziguezaguear” cones e usar coletes coloridos. Não tocar a bola e ser considerada a promessa do time pelo professor. Senti-me extremamente confortável, assim como quando fazemos uso de uma antiga maneira de pensar, um velho preconceito, uma zona de conforto. Na época eu não sabia, mas hoje sim, sei disso, da facilidade de um retrocesso.
A lente acadêmica me fez repensar todas essas situações, a minha postura e a dos professores. Outro dia fui convidada para treinar basquete, dentro da universidade. Estávamos no aquecimento, não estranhamente correndo em círculos na quadra, quando vi uma menina se aproximar da outra durante a corrida: “Amiga, seu cadarço tá desamarrado.” Trocaram mais algumas palavras, quando o professor irrompeu em gritos que diziam mais ou menos assim: “Ei, vocês tão conversando o que aí? No dia do jogo eu quero saber se vocês vão ficar conversando. Sem conversa! Hoje nós vamos treinar forte, ouviram? Treinar forte!” Lembrei-me da aula de handebol, lembrei-me daquela maldita rotação no vôlei, mas dessa vez, continuei correndo, continuei lá, mas só até o fim do treino. Quando acabou eu só tinha uma dúvida em mente: “A que horas acontecem os treinos de futsal?”.