Autor: André Luiz Cyrino Oliveira
Segmento: Escola de Ensino Médio Mariano Martins
Tipo de Instituição: Estadual
e-mail: and.cyrino@gmail.com
Capa da Revista Nova Escola - Editora Abril |
Eis que um colega precisa entrar de licença. Assumi as turmas dele do terceiro ano do ensino médio. Os mais velhos da escola, os meninos que 'mandam' no racha do intervalo, as meninas mais cortejadas nos corredores. Não continuaria muito tempo com eles, o professor titular retornaria da licença ainda no corrente ano, então resolvi experimentar um conteúdo que julgava tão importante quanto esquecido: sexualidade. A primeira reação dá título a esse relato e deu também um caminho para refletirmos sobre o tema e sobre a Educação Física. Por que o sexo parece ainda ser um locus da medicina, da biologia, da doença, do pecado? Por que ele não é das nossas conversas, das nossas camas, dos nossos corpos, das nossas escolas?
E a Educação Física trata de que? De quadras, de regras, de deltoides e esternocleidomastoideos (avemaria-três-vezes!)? Que corpo em movimento é esse que responde à apito e ignora cheiro no cangote? O estranhamento inicial deu lugar à solícita atenção. Questionamentos encabulados, risadas despretensiosas de anedotas ingênuas do professor, imersão silenciosa. São vários os louros que eu colhi e ainda colho. Hoje a temática é parte do currículo e eu acabei me tornando professor dos terceiros anos. Me atinava o juízo saber que essa mocidade ia para o mundo sem nunca ter conversado diretamente sobre um assunto tão pertencente a nossa vida. Pelo menos parcialmente (porque ainda é preciso mais), o juízo anda melhor.
Qual o motivo de uma escola existir? Essa é uma pergunta essencial porque todo o trabalho docente deve se pautar na resposta a essa pergunta. Eu acredito que a escola só existe se for para nos ajudar a viver. Seja nos apresentando os códigos de comunicação da vida em sociedade, seja nos fazendo perceber que o mundo muda, seja nos dando condições de saber se o troco do supermercado veio certo. Eu trabalho sexualidade por vários motivos, mas sobretudo para nos ajudar a compreender que temos direito ao corpo e ao prazer de forma livre, plena e saudável.