OFF´S


Políticas do Corpo
Texto e locução: Tatiana Passos Zylberberg




Corpo. Corpo. Corpo.
Corpo, no cotidiano.
Corpo transformado.
Corpo que as politicas impregnam. Corpo que impregna politicas.
Medidas. Formas. Jeitos... tamanhos.
Medidas? De pé, de cintura, de nariz, de seio, de rosto.
Tempo. Um corpo que expressa o tempo.
Um tempo que politicamente voa.
Ele enruga... ele mancha... ele se modifica... ele te encara.
 O corpo tem um tempo que encara.
E esse espelho tem uma politica que conversa com você.
Ela te cobra um corpo sem manchas.
Ela te cobra um corpo sem marcas.
Ela te cobra um corpo nas medidas certas.
Certas? Exatas? Medidas?
Medidas de quem?
Quem inventou uma politica de medir corpos?
Quem inventou... um tamanho?
O tamanho do meu corpo é o tamanho do que eu sou!
E o tamanho do que eu sou é o tamanho do que eu quero ser.
Quem disse que eu tenho que ter um tamanho certo para ser.
Corpo! Um corpo que parece um ser estranho... para alguns.
Um corpo que parece algo de fora como uma casca, uma marca, uma mancha, um empecilho.
Corpo descuidado.
Corpo entregue.
Obesidade mórbida.
Um corpo sem medidas, sem cuidados.
Corpo ... transformado, transmutado, tatuado.
Corpo com piercing.
Brinco em todas as partes do corpo.
Corpo desenhado... desenhado a bisturi. Planejado.
Corpo no computador.
Corpo transmutado.
Politicas que... dizem que o corpo tem um jeito...  de ser.
Cotidiano.
Corpo que faz barulho.
Corpo que range.
Corpo que dói.
Corpo que a pele amassa.
Corpo que sente dor.
Corpo que anda.
Corpo que tem calo.
Corpo que tem pelo.
Corpo sem pelo...  nenhum. Todo depilado.
Corpo... com história.
Quando você fica diante do espelho seu corpo conta uma história.
Ela conta a história de como você lida com ele.
Como você lida com você.
Você se cuida. Você se entrega.
Você se exalta. Você se menos preza.
Você olha, no seu rosto?
Corpo que engasga. Que entala.
Corpo que engole. Engole rápido.
Corpo que olha no relógio e engole, engole... engole porque não tem tempo.
Depois o corpo aperta.
Vem barulho de todos os lados.
Vem uma sensação estranha e você não sabe o que fazer com seu corpo.
E ele grita.
Ele grita.
Ele te cutuca.
Ele te belisca.
Ele te arranha.
Ele te avisa.
Ele te avisa no cotidiano que você tá seguindo uma politica, que não faz bem pro seu corpo.
Mas você não escuta!
Você não escuta o corpo.
Porque você acha que o corpo, não é capaz de falar com você.
Mas... o dedo do pé lateja.
A coluna trava.
Os ombros enrijecem.
As mãos tremem.
A voz gagueja.
E os olhos doem.
E você se afasta.
Você se afasta por mais um tempo de encarar que você é seu corpo.
Talvez você fique pensando em todas as ideias... religiosas, culturais e politicas que disseram “pera aí, você só tem isso. Você tem um corpo”.
Ter? Hã... Tenho não! Eu sou!
Eu sou esse corpo.
Você é esse corpo.
Vem cá. Chega perto do meu corpo.
Olha pra mim que eu olho pra você.
Posso te fazer uma pergunta?
Você é feliz com seu corpo?
Eu disse uma pergunta, mas eu tenho várias perguntas.
Tenho muitas perguntas.
Meu corpo pergunta pra você.
Meu corpo sente uma necessidade incontrolável de perguntar.
Que corpo é esse?
Você não precisa ter um padrão, uma medida, um tamanho.
Mas você precisa cuidar.
Você precisa cuidar de você.
Não é comer o que dizem.
Sei lá! Vamos descobrir o que faz bem comer?
Pode dizer, tem politicas para vender comida.
Tem politicas para vender dieta.
Tem políticas para vender o que se deve ou não comer.
Tá bom, então... esquece isso.
Pensa em outra coisa.
Pensa, no que você quer... comer.
Se quiser, vai lá. Olha atrás, e observa bem.
Quanto mais anti... acidulante... é modificante...  anti, anti, anti, anti...
Esse anti. É anti nada.
É anti-saúde.
Vai... intoxicar o seu corpo...
E as emoções?  Como você lida com as emoções do seu corpo?
Quando você escuta uma música, onde ela toca?
Ela toca no seu peito?
Ela toca na sua barriga?
Ela toca nos seus braços ou ela toca nos seus pés de uma maneira incontrolável que você dança.
Você dança, e você liberta completamente seu corpo de todas as políticas.
Do jeito dele ser...
Do jeito dele dançar...
Do jeito dele se mover...
E você vive, intensamente, essa dança.
Até a hora que você percebe que tem alguém te observando... haha...
Outros corpos que observam o seu corpo criam uma política do esconderijo.
 Não querer ser visto.
Não querer ser ob-ser-va-do.
O corpo é ao mesmo tempo... a nossa vitrine e o nosso casulo.
Você pode escolher como você vive seu corpo no cotidiano.
Você pode escolher!
Você não precisa seguir o que te impõe.
Você não precisa seguir um padrão certo...
Certo padrão?
Quem estabeleceu isso... não olhou para o corpo.
O corpo é a marca da diferença.
O corpo é a nossa identidade mais... legitima.
Ele escancara!
Ele escancara aquilo que a gente faz da gente mesmo. A cada segundo.
Ele escancara a maneira com que a gente lida com a vida!
O corpo, cotidiano... é o corpo, politico.
É o corpo, imerso numa série de maneiras, e crenças e formas de acreditar!
Eu volto à pergunta.
Você é feliz com seu corpo?
Olhe no espelho!
Esqueça as medidas!
Deixe de se preocupar se o zíper fecha.
Ou pare simplesmente de usar roupas, que se quer precisam de zíper.
Porque elas te cabem.
Elas cabem três de você.
Aí você acha que continua ficando ali dentro.
E ali dentro é um lugar confortável.
Lembre-se que seu corpo é seu casulo e sua liberdade.
Ele é um espelho de você!
Corpo! Corpo!
Escute!
Você está percebendo que existem alguns barulhos, que saem de dentro do seu corpo e voltam novamente a te cutucar?
Transforme esses barulhos numa pergunta.
Eu transformo para você.

VOCÊ É FELIZ COM SEU CORPO?

Autoria de Tatiana Passos Zylberberg

ALGUMAS SUGESTÕES DE UTILIZAÇÃO PEDAGÓGICA DESTE ÁUDIO-TEXTO:

1- organizar os participantes em duplas, pedir que fiquem frente a frente de mãos dadas, de olhos abertos e deverão permanecer assim durante toda a duração do áudio "Políticas do Corpo" - posteriormente pode ser feita uma roda de compartilhamento. 

2- sugerir que os participantes fiquem deitados de olhos vendados, colocar o áudio e indicar que durante o tempo que escutam, as pessoas percebam como se sentem, que memórias acessam e o que as inquieta. - posteriormente pode ser feita uma roda de compartilhamento. 

3- o áudio pode ser utilizado em processos terapêuticos quando o tema é autoimagem e autoestima.

4- criar outras propostas como produzir perfomance art tendo o áudio como "música".