[POESIA] Desnomeado

Hoje me apresento como o corpo.
Corpo que fala o que pensa? Ou pensa o que fala?
Ainda não sei, então vamos viajar em um percurso filosófico
E quem sabe eu descubra que sou e o que eu posso.

Antes e tudo fiz parte e uma forma integrada,
Onde corpo e pensamento faziam parte de um só domínio,
Mas vejam só por onde andei...

Sócrates com suas ideias contraditórias,
Disse: “O homem é sua alma”, mas e eu onde fico? O que sou?
A alma me responde: É meu instrumento,
E com você eu não consigo chegar a verdade,
Pois é material e eu sou imaterial,
Ordeno o homem a conhecer a si mesmo,
Sou a consciência, a personalidade intelectual e moral.
E só com a sua morte eu irei além esse mundo que não é o real.

Platão com seu mundo das ideias
Fala:” A alma preexiste ao corpo, é imortal”.
Vejo que mais uma vez no esquecimento,
Sou material, sou movido por ela que diz:
O que percebo é pela razão, já você é pelos sentidos,
Por isso o que sei é real e o que sabes é mentira.
A felicidade só é alcançada se te dominarmos,
Você não é capaz e resistir a impulso, prazer e paixão.
Logo, merece minha aversão.

Será que ninguém me dar importância,
Já me vejo perder a esperança.

Aristóteles, talvez esse tenha consideração.
Ele diz: “O homem é uma unidade substancial de alma e de corpo”.
Vejam só! Agora posso falar pra ela:
Alma você também é minha forma,
Embora seja seu “o pensar”
É meu ato organizado e nada faz sem me perguntar,
Quando penso que estou ganhado significado
Vem a igreja e toma meu espaço.

Santo Agostinho com seu platonismo cristão,
Diz: “O corpo não é essencialmente mau, pois foi criado por Deus,
que fez boas todas as coisas”.
Então sou algo bom como a alma?
Ela uma vez me diz: Não, eu sou imortal,
Inteligência divina em intelecto intuitivo e razão discursiva.

Mas uma vez fui profano, mas, não posso perder as esperanças.
Tantos outros ainda virão, talvez consiga uma concepção.

São Tomas de Aquino, com influência Aristotélica,
Afirma: “Há no ser humano uma alma única
e profundamente ligada ao corpo”.
Será que agora faço parte o conhecimento?
Sou o lado sensível e a alma intelectivo,
Eu capto pelos sentidos e ela pela razão
Que emoção! Ganhei importância nessa concepção.

O tempo continua a passar
e eu não aguento mais esperar
Preciso me descobrir e saber por que ainda estou aqui.
Deixei de se marionete divina
e começo a ser analisado pelo viés cientifico.

René Descartes, mais um filosofo
Que afirma: “ A essência da natureza consiste apenas no ato de pensar”.
Logo, continuo a me procurar e ela a clamar.
Não ocupo lugar no espaço,
Não posso ser fragmentada,
Opero independente e você,
Mas o contrário não é possível.
Você depende de mim,
Por isso sou a própria razão
E você frágil emoção.

Spinoza com seu paralelismo psicofísico
Apresenta-me de forma distinta.
Diz: “Na natureza não há diferença entre corpo e alma,
Os dois constituem um único ser”.
Como entender?
Ela que sempre se fez completa
Hoje não existe sem mim,
Se sofro, ela também sofre.
É meu espirito, minha ideia.
Transbordo em emoção,
Afinal chego perto de uma concepção:
Não sou só expressão.

Um último filosofo é apresentado.
Marleau-Ponty diz: “É o corpo que nos possibilita
Perceber o mundo e tudo que há nele”.
Estranho ser elevado mais uma vez,
Eu que sempre estive a mercê a alma,
Somos mais uma vez dependentes,
Um único corpo, uma única alma
Que juntos formam um ser... que pensa... que sente... que é.

Tantas explicações e muitas ainda virão,
Mas entendi que só eu sei a minha real concepção...
Sou o que sou!
Tudo que me forma, tudo que expresso
Sou emoção e também sou razão,
Sou o sentido e a falta dele
Sou no espaço e no tempo

Sou o que estar aqui por inteiro...

Lidyanne Viana Nogueira, 2014