[NARRATIVAS] Isabelle Costa

Isabelle Costa, 2012

Se eu tivesse que falar as memórias de minha adolescência certamente eu representaria uma tela em branco como a maioria das crianças, infelizmente, onde a Educação Física como componente curricular não encontra lugar relevante.
Hoje até acredito que existe um mínimo respeito ao falar da prática de Educação Física, sob diversos discursos, como o da criança necessitar gastar energia, melhoria da qualidade de vida ou mesmo para não se tornar uma criança obesa. Muitos discursos, pouca objetividade.
Na minha época era pior, valia mais a pena estar dentro de sala de aula “exercitando a mente” do que exercitar o próprio corpo. Desenvolvimento motor, motricidade, pareciam palavras distantes do dicionário de meus pais.
Um fato curioso é que facilmente eu conseguia arrancar de meu pai um atestado médico, impossibilitando minha prática de exercícios físicos sob a desculpa de possuir constantes enxaquecas. Ninguém sequer perguntava por que essas enxaquecas só prejudicavam a Educação Física, as outras aulas não.
Convém falar que esse papel irrelevante da Educação Física na minha história teve diversos fatores desestimulantes como o horário das aulas ser mais cedo que o habitual, a prioridades sempre ser dada ao “raxa” dos meninos para depois as mulheres timidamente se expressar, porém é daí que vi algo interessante para extrair e apresentar para vocês.
Lembrei que nessa época iniciou-se meu contato com outros corpos já que as roupas costumavam ser mais curtas e mais coladas do que as horrorosas fardas. Eu sempre tive um corpo largo, pernas grossas e meus seios foram os primeiros a crescer, e como isso me envergonhava e ao mesmo tempo em que sentia que algumas meninas invejavam meu primeiro sutiã, sentia vergonha de ser diferente. Sem contar que os primeiros sintomas da adolescência começavam a aparecer, o clima entre os meninos e meninas não era mais o mesmo e sentia pela primeira vez a presença se um elemento tão citado ao longo de nossa construção; a busca da autoestima.
Como depois das aulas de Ed. Física nós meninas deveriam tomar banho para reiniciarmos as aulas, veio outro elemento tão tenebroso como importante de ser tratado; a Nudez. O próprio corpo de várias meninas passava a ser um grande inimigo. Enquanto aquelas que gostavam de si e gostavam de sua imagem sentida e refletida, outras simplesmente com vergonha de si, iam abandonando as aulas, e o número de alunos ia ficando cada vez mais resumido.
O que posso concluir é que o próprio desrespeito que damos as aulas de Educação Física reflete diretamente na construção de nossa imagem, da autoestima e de como lidamos com nosso corpo. Diante de tantas disciplinas quem se importa em explicar e dialogar sobre as mudanças e impressões sobre nós mesmos?
Acredito que a Educação Física como disciplina é essencial no sentido de educar o corpo físico, mas também ensinar sobre esse corpo, para que o conhecendo e também suas particularidades e mudanças possamos nos aceitar e respeitar os outros.